A Revolução Espiritual

Na década de l920 a 30, já com a presença - a partir de 1921 - de D. Sebastião Leme no Rio, é que a Igreja sob a sua liderança desempenha a tarefa de "afirmação da hierarquia católica no Brasil" (AZZI, 1977, p.62-63). É o período chamado de Restauração Católica.

Embora mantenha as três ideias fundamentais do período anterior: "necessidade de melhor formação do clero e instrução religiosa do povo; atitude apologética com relação à maçonaria, ao espiritismo e ao protestantismo; mentalidade conservadora no que diz respeito aos problemas políticos e sociais" (AZZI, 1977, p. 89), há algumas ideias novas que dominam os líderes católicos. São basicamente duas: "maior presença da Igreja, e colaboração efetiva com o governo" (AZZI, 1977, p. 63). A luta pela ordem e pela autoridade na sociedade, é o enfoque da Restauração Católica.

A hierarquia Católica, apoiada nas diretrizes do Papa Pio XI, pretendia "criar uma ordem política e social fundamentada nos princípios cristãos" (AZZI, 1977, p. 87).

O período de reação católica no terreno propriamente dou­trinário, segundo Figueiredo (1924), fora fechado por Pio IX e, Leão XIII iniciara o período em que se oferecia um método para aplicação do que se chamava "a verdade" na ordem prática. Nessa aproximação, "o poder político via na Igreja um valioso apoio para a manutenção da ordem pública, conturbada pelos movimentos revolucionários que caracterizavam esse período. A Igreja, por sua vez, se considerava como elemento importante no pais para a manutenção da ordem constituída através da pregação de valores morais e religiosos" (AZZI, 1977, p. 100).

As ações da Igreja Católica brasileira, na época, não podem ser analisadas somente como uma reação a uma realidade nacional, mas principalmente dentro das diretrizes de Roma. No caso brasi­leiro, a posição contra o liberalismo, o socialismo e o positi­vismo da ciência foram muito mais antecipatórias do que uma questão de confronto, como o fora na Europa. Muito embora a criação do Partido Comunista e os movimentos operários de inspiração anarquista também estivessem presentes na realidade brasileira.

Os conceitos de ordem e de autoridade são dois pontos fundamentais no pensamento jacksoniano. Estão intimamente rela­cionados pois, para haver ordem é preciso autoridade. A ausência da ordem, hierarquia e disciplina é tida, por ele, como anarquia (exemplo, o movimento tenentista).

A doutrina da ordem, defendida por Jackson, "coloca-se na linha do português Antonio Sardinha" (REIS, 1983, p. 70), ideólogo do Integra­lismo Lusitano e, de Joseph de Maistre (IGLESIAS, 1981).

Onde há ordem não há Revolução. Pensa que a tarefa de reconstrução nacional compete à Igreja Católica e à Elite Católi­ca, pois considera a Igreja Católica como a Escola da Ordem (FIGUEIREDO, 1922). Afirma que "mesmo os mais conscientes inimigos da fé católica reconhecem que a sociedade brasileira tem a lei da sua formação e do seu desenvolvimento na disciplina moral da Igreja, que, única, foi capaz de harmonizar elementos tão dispares como os da nossa origem histórica e, portanto, dar-lhes, no nosso meio físico, uma orientação dominadora". Considera impossível uma atitude de autonomia, de liberdade, "fora dessa lei, que lhe é própria" (FIGUEIREDO, 1924, p. 164).

Na afirmação de Cruz Costa (1967, p. 385), Jackson foi, "no Brasil, a primeira expressão leiga da reação católica contra as ideias socialistas que se acentuariam logo depois da primeira guerra mundial."

O alinhamento do pensamento de Jackson de Figueiredo, segun­do Soares (SOARES, 1982, p. 337), ao lado dos interesses da oligarquia cafeeira e identificado por "seu discurso reacionário, tradicionalista e contra revolucionário" que tinha como objetivo "subjacente à restauração da ordem oligárquica, subvertida pelos movimentos de dissidência e de rebeldia às autoridades constituídas".



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