Infâncias
Quando se estuda acerca do fenômeno infância, observa-se que é a partir da modernidade Ocidental (séculos XVII/XVIII) que as atividades infantis são inventadas como instrumentos pedagógicos. Isso mostra o quanto à criança precisava ser preparada para a vida, através de dispositivos pedagógicos específicos. Esta ocorrerá, principalmente, na captura da criança ao espaço escolar, bem como através de afinamento e intervenções em seu brincar. Conseqüentemente, seus brinquedos serão também fabricados a partir desta perspectiva. Toda a cultura infantil será permeada por uma rede de dispositivos pedagógicos, culturais, sociais, etc. que, de algum modo, constituirão um sujeito infantil de um jeito e não de outro. Às culturas infantis se irá perguntar: como os diferentes modos de entretenimentos para eles produzidos, fabricam os sujeitos infantis quanto ao gênero, geração, raça, etnia, corpo, etc., visto que, “o entretenimento das crianças como em outras esferas sociais, é um espaço público disputado, onde diferentes interesses sociais, econômicos e políticos competem pelo controle” (Steinberg & Kincheloe, 2001, p. 19), poder e regulação? À cultura infantil se perguntará: qual a relação entre a infância, a criança e a cultura para ela fabricada? Que sujeito compõe estas infâncias? Entendo que todos os discursos que levam a pensar/problematizar a alteridade da infância hoje mostram como ela tem escapado, talvez por ainda não se ter produzido suficientes tecnologias ou saberes para controlá-la e poderes para governá-la. Muitas crianças hoje, não estão acostumadas a agir ou pedir licença para saber ou pensar. Elas agem, pensam e sabem sem a permissão do adulto. Conhecem coisas que antes só eram possíveis a adultos. STEINBERG e KINCHELOE (2001, p. 34) nos instigam a refletir sobre esta questão quando afirmam que os “adultos perderam a autoridade que tinham antes por saberem coisas que as crianças, propositalmente protegidas, não sabiam”. Este é o nosso desafio.
Leni Vieira Dornelles