A ideia da existência de uma quarta dimensão estava na moda no ocidente pelo menos desde a década de 1880. Em 1884 Edwin Abbott (1838-1926) publicou sua divertidíssima novela Planolândia – um romance em muitas dimensões, no qual o protagonista, um ser bidimensional, descobre, assombrado, todo um universo tridimensional. A ideia, que vinha na esteira das geometrias não euclidianas de Lobatchevski, Gauss e ainda Riemann, iria incendiar as mentes dos divulgadores científicos – Charles Howard Hinton (1853-1907) já na década de 1880 promete que o estudo da quarta dimensão aguça nossas faculdades mentais. Além disso, se preocupa com o modo como seria possível representar a quarta dimensão:
No começo do século XX os artistas das vanguardas históricas já estão bem familiarizados com essa “novidade velha”, e Appolinaire, em Pintores cubistas, faz clara menção do recurso a tais teorias por parte dos artistas de vanguarda. O modo como semelhante recurso se dava é motivo para acaloradas discussões. Basta que lembremos o ceticismo do marchand Daniel-Henry Kahnweiler a respeito dos conhecimentos “matemáticos” dos cubistas, tal como ele manifestou em troca de correspondência com Gombrich, no final dos anos cinquenta.
Na proa dos divulgadores científicos que se detêm sobre as teorias da quarta dimensão encontra-se Henri Poincaré (1854-1912), autor muito lido entre os artistas. Também ele em mais de um momento especula sobre como seria possível representar a quarta dimensão, um problema que preocupa os geômetras e estimula os artistas.
Um outro texto de divulgação como o de Esprit Jouffret (1837-?), lido por Picasso, já apresenta uma brevíssima menção à historiografia da quarta dimensão, na medida em que cita Hinton e Poincaré. A fundamental contextualização de todo esse “material bruto” pode ser encontrada no livro de Luc Ferry, Homo Aestheticus, que trata, entre outras coisas, da relação dos pintores cubistas com as teorias da quarta dimensão e com as geometrias não-euclidianas.
Se esse universo quadridimensional não resistiu à Teoria da Relatividade de Einstein, continua, no entanto, a ser relevante para a compreensão do estimulante clima intelectual que viu o surgimento de correntes artísticas como o cubismo.