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Cubismo e guerra

Cubismo: múltiplas dimensões

Introdução

Gertrude Stein, em um texto sobre Picasso, de quem foi grande amiga, apresenta uma associação forte, aquela entre a composição cubista e a inédita configuração da I Guerra Mundial:

Realmente a composição dessa guerra, 1914-1918, não era a composição de todas as guerras anteriores, a composição não era uma composição em que havia um homem no centro, cercado por vários outros homens, mas uma composição que não tinha nem começo, nem fim, uma composição na qual um ângulo era tão importante quanto outro ângulo, de fato a composição do cubismo (BURNS, Edward [Ed.]. Gertrude Stein on Picasso. New York: Liveright, 1970. p. 17-180).

Se por um lado a I Guerra Mundial vem interromper o movimento cubista, por outro a ótica cubista marcará profundamente o modo de se perceber a guerra. Reginald Farrer (1880-1920), escritor e jardineiro que estivera na China entre 1914 e 1915 e que, de volta à Inglaterra em 1916, passa a trabalhar para o Departamento de Informação, em seu pungente texto O vazio da guerra, apresenta essa superfície incoerente e mutilada que constitui as trincheiras, um cenário tão diverso das batalhas em campo aberto e com hora marcada das guerras anteriores. Stephen Kern, por sua vez, explora tanto o texto de Farrer como o insight de Gertrude Stein em seu capítulo sobre a Guerra Cubista.

André Salmon (1881-1969), crítico de arte amigo de Picasso e Apollinaire e que hoje, como Farrer, também caiu no esquecimento, escreveu um interessante ensaio sobre os “pintores da guerra”, que inicia com o contraste entre a guerra nos tempos de seu avô, um pintor de batalhas, e a guerra atual, “cubista”. A desolação diante da realidade das trincheiras ecoa Farrer.

No texto de Ernest Heminghway (1899-1961), Um voo de Paris para Estrasburgo, escrito enquanto era correspondente do Toronto Daily Star em Paris, a guerra já havia acabado, mas deixa suas marcas, ainda perfeitamente observáveis do alto de um avião (associações entre a vista aérea e o cubismo também são comentadas por Martin Jay em Ojos Abatidos). O cubismo aqui igualmente se apresenta como um “modo de olhar” que dá conta de determinados ângulos da realidade.

O material aqui reunido permite, sem dúvida, uma visão privilegiada da maneira como essas duas grandes mudanças de paradigma na arte e na guerra em alguns momentos colidem e, mesmo, se confundem.