Gertrude Stein, em um texto sobre Picasso, de quem foi grande amiga, apresenta uma associação forte, aquela entre a composição cubista e a inédita configuração da I Guerra Mundial:
Se por um lado a I Guerra Mundial vem interromper o movimento cubista, por outro a ótica cubista marcará profundamente o modo de se perceber a guerra. Reginald Farrer (1880-1920), escritor e jardineiro que estivera na China entre 1914 e 1915 e que, de volta à Inglaterra em 1916, passa a trabalhar para o Departamento de Informação, em seu pungente texto O vazio da guerra, apresenta essa superfície incoerente e mutilada que constitui as trincheiras, um cenário tão diverso das batalhas em campo aberto e com hora marcada das guerras anteriores. Stephen Kern, por sua vez, explora tanto o texto de Farrer como o insight de Gertrude Stein em seu capítulo sobre a Guerra Cubista.
André Salmon (1881-1969), crítico de arte amigo de Picasso e Apollinaire e que hoje, como Farrer, também caiu no esquecimento, escreveu um interessante ensaio sobre os “pintores da guerra”, que inicia com o contraste entre a guerra nos tempos de seu avô, um pintor de batalhas, e a guerra atual, “cubista”. A desolação diante da realidade das trincheiras ecoa Farrer.
No texto de Ernest Heminghway (1899-1961), Um voo de Paris para Estrasburgo, escrito enquanto era correspondente do Toronto Daily Star em Paris, a guerra já havia acabado, mas deixa suas marcas, ainda perfeitamente observáveis do alto de um avião (associações entre a vista aérea e o cubismo também são comentadas por Martin Jay em Ojos Abatidos). O cubismo aqui igualmente se apresenta como um “modo de olhar” que dá conta de determinados ângulos da realidade.
O material aqui reunido permite, sem dúvida, uma visão privilegiada da maneira como essas duas grandes mudanças de paradigma na arte e na guerra em alguns momentos colidem e, mesmo, se confundem.