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Cubismo, filosofia e literatura

Cubismo: múltiplas dimensões

Introdução

O filósofo americano William James (1842-1910), na carta que escreveu a Henri Bergson em 14 de dezembro de 1902, comenta a leitura que fizera de Matière et Memoire, uma das mais importantes obras do filósofo francês:

Meu caro senhor, li a cópia de seu Matière et Memoire, que tão gentilmente me foi enviada pelo senhor, imediatamente ao recebê-la, quatro anos atrás ou mais. Vi sua grande originalidade, mas achei suas idéias tão novas e vastas que não pude ter certeza se as havia compreendido inteiramente, ainda que o estilo [...] fosse lúcido o suficiente. Então deixei o livro de lado para uma segunda leitura, que acabo de concluir, lenta e cuidadosamente, junto com a de Données Immediates; etc. Acho que agora compreendo bem as principais linhas de seu sistema ainda que, evidentemente, não consiga traçar as relações apropriadas com os aspectos da experiência dos quais o senhor não trata. [...]. Este livro ocasiona uma espécie de revolução copernicana assim como os Princípios de Berkeley ou a Crítica de Kant; e irá, provavelmente, à medida que seja mais e mais conhecido, abrir uma nova era na discussão filosófica.

O próprio James contribuiu para a renovação no pensamento do século XX ao, pelo menos, a década de 1870, estudar a historicidade inerente à experiência humana, os efeitos da passagem do tempo na psicologia e na estruturação da consciência e a infinita singularidade e criatividade de cada indivíduo assim concebido (tipo de visão que se relaciona com sua notável tolerância a outros povos e culturas ainda na juventude). Em 1884 são publicados na revista Mind seus dois famosos artigos sobre a ideia de pensamento como fluxo e sobre a concepção de emoções como sensações orgânicas, conforme nos informa Stephen Kern.

Uma relevante introdução ao pensamento de Henri Bergson (1859-1941) é, pois, apresentada pelo próprio William James em seu Bergson e sua crítica do intelectualismo (1909), aqui reproduzida parcialmente, conferência que integra seu último livro, A Pluralistic Universe. Outra interessante introdução ao pensamento bergsoniano, que não apenas traça as linhas gerais da teoria do filósofo francês, mas também a associa às proposições da arte simbolista, é A filosofia do sr. Bergson e o lirismo contemporâneo (1910), de um ex-aluno do filósofo, o crítico Tancrède de Visan (1878-1945). O impacto da filosofia de Bergson sobre os movimentos artísticos do início do século XX, sobretudo o cubismo, não pode ser desconsiderado, e um relativamente completo mapeamento desse cenário está disponível nos textos Time and Bergson; Bergson, poetry and painting, Bergson and sculpture e Anti-Bergsonists, de Mark Antliff e Patricia Leighten, aqui indicados como leitura complementar.

Ainda outra dimensão do estudo do cubismo é sua repercussão na literatura, tão bem evidenciada no poema Se eu lhe dissesse (1923), de Gertrude Stein (1874-1946). A amizade e a cooperação intelectual e artística entre Stein e Picasso é recuperada em outra leitura aqui indicada, o catálogo Picasso and Gertrude Stein, de Vincent Giroud.