MÓDULO II
A IMAGEM, INSTRUMENTO DE CONHECIMENTO
OU DE INTERIORIZAÇÃO DE PROCONCEITOS?

Introdução

Viagem pitoresca ao Brasil de Debret e Rugendas


A fotografia jornalística, as imagens que documentam o homem e o seu cotidiano, a cidade e o campo, a paisagem e os fatos gerados por ela, é hoje uma realidade corriqueira, que pode ser exercida por qualquer um, desde que se tenha uma objetiva na mão e observe o mundo ao seu redor. Nem sempre dispositivos como uma câmera digital, estiveram à disposição. Cabia no passado, aos desenhistas e pintores retratarem o cotidiano do mundo em que viviam, através de litografias que registravam o seu tempo e a sua época.

O Brasil colonial foi fartamente retratado por grandes pintores e desenhistas, como o francês Jean-Baptiste Debret e o alemão Johann Moritz Rugendas. Pintores e desenhistas das cenas brasileiras da primeira metade do século XIX, eles trazem a paisagem humana viva de uma colônia que elevada à categoria de reino unido, ainda não rompera com as amarras econômicas que se sustentava pela escravidão tanto dos negros africanos quanto dos indígenas nativos. Do homem à botânica, das etnias que construíam a Colônia aos animais que habitavam as suas florestas, tudo foi retratado por estes grandes desenhistas.

Aqui fazemos uma viagem ao Brasil colônia do século XIX, com Debret e Rugendas (autor da gravura acima, Missa de Nossa Senhora da Candelária em Pernambuco, da obra Voyage Pittoresque au Brésil), mergulhando em um passado que não mais existe, mas mesmo distante, deixou suas marcas indeléveis na paisagem humana e nos costumes da nação que se construiu a partir desta época.

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O corpo exótico do Outro, entre exibições e espetáculos da diferença

Parte da estratégia de dominação dos espaços colonizados recaia na afirmação de superioridade das nações imperialistas e de seus respectivos integrantes sobre os povos e territórios conquistados. Caracterizar o Outro como selvagem e inferior servia ao propósito de controlá-lo eficazmente nos domínios imperiais, e simultaneamente de construir uma justificativa legitimadora que caracterizava o empreendimento como missão civilizadora digna de apoio e aceitação nos centros metropolitanos. É nesse contexto que surgem os "zoos de humanos", ou mais precisamente uma série de práticas expositivas, orientadas pelas perspectivas científicas vigentes, associadas especialmente às exposições universais e congêneres, em que guerreiros Zulus, hindus encantadores de cordas, tuaregues em seus camelos, ou mesmo reconstituições de vilas coloniais inteiras eram apresentadas, "encenando" os comportamentos típicos dos grupos étnicos arregimentados (em geral de forma degradante) para o espetáculo, dando ao público um vislumbre de seus primitivos modos de viver. O corpo exótico foi construído como espetáculo da diferença a ser contemplado por todos, tanto como forma de lazer, quanto como objeto de investigação científica de prestigiados anatomistas europeus, desde o século XIX.

Entre novembro 2011 e junho 2012 o Museu do Quai Branly apresentou a exposição EXIBIÇÕES - a invenção do selvagem, que teve como curadores científicos Pascal Blanchard (associado ao grupo de pesquisa ACHAC) e Nanette Jacomijn Snoep, e como curador geral o ex-jogador da seleção francesa Lilian Thuram. Como mostra a boa matéria da BBC, a proposta visa justamente compreender essa estratégia de dominação que fabricava a alteridade do colonizado combinando as teorias raciais e as formas de exibição em espetáculos para as massas. Segundo a própria exposição a última dessas reconstituições foi montada na Exposição Universal em Bruxelas (Bélgica) em 1958.

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Exposição relembra shows étnicos com humanos 'exóticos' na Europa

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Os zoológicos humanos.
Museu de Imagens.