MÓDULO II
A IMAGEM, INSTRUMENTO DE CONHECIMENTO
OU DE INTERIORIZAÇÃO DE PROCONCEITOS?

CONTEÚDO

Para saber mais

Filmografia

1. Tabu. F.W. Murnau, 1931.

Sinopse: Tabu, a Story of the South Seas, no original em inglês) é um filme estadunidense mudo de 1931, o último dirigido pelo cineasta alemão F. W. Murnau, em coprodução com o documentarista estadunidense Robert Flaherty. Laureado com um Oscar, Tabu foi selecionado, em 1994, para preservação na Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos com a classificação de significância cultural, histórica e estética.


2.Vênus Negra. Abdellatif Kechiche, 2010.

Sinopse: Vênus Negra é um filme belga, francês e tunisiano de biografia e drama de 2010, dirigido por Abdellatif Kechiche e estrelado por Yahima Torres. O filme é baseado na história de Saartjie Baartman. O filme conta a história de Saartjie Baartman, uma mulher sul-africana da etnia hotentote, que deixa a África do Sul rumo à Europa, acompanhada por Caezar, seu mestre. Caezar promete a Saartjie um emprego fixo em um circo, onde ela facilmente ficaria rica, mas na verdade ela vê-se obrigada a exibir seu corpo para curiosos em Londres. Devido à sua aparência e seus traços corporais de uma hotentote, Saartjie é vista como uma mulher exótica pelos europeus. Sem nenhuma pretensão a ser didático, "Vênus Negra", o contundente novo drama do tunisiano radicado na França Abdellatif Kechiche ("O Segredo do Grão") atravessa uma série de temas - o colonialismo, o racismo e o machismo, os mais evidentes. Que a história, apesar de ambientada no início do século 19, tenha tanta ressonância numa Europa que ergue barreiras crescentes aos imigrantes, não é mera coincidência. Ao centro do filme, roteirizado pelo próprio Kechiche e Ghalia Lacroix, há uma personagem real cuja biografia é repleta de pontos obscuros. Pelas próprias características de sua vida curta e oprimida, nunca se saberá tudo sobre a sul-africana Saartje Baartman (a impressionante estreante cubana Yahima Torres). Suas formas mais do que generosas, que lhe valeram o apelido de "Vênus hotentote", falaram mais alto do que ela. Saartje, que sonhava em ser artista na Europa, como foi na África, acabou refém de uma situação de virtual escravidão não só em relação ao patrão Hendrick Cezar (Andre Jacobs), como frente ao olhar com que uma mulher, africana, imigrante e despossuída foi encarada. Mesmo cientistas não foram menos voyeurs.



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3.O nascimento de uma nação. D. W. Griffith, 1915.

Sinopse: O Nascimento de uma Nação é um filme mudo estadunidense de 1915 coescrito, coproduzido e dirigido por D. W. Griffith. O filme relata as vidas de duas famílias durante a Guerra de Secessão (1861-1865) e a subsequente Reconstrução dos Estados Unidos (1865-1877): os Stonemans, nortistas pró-União, e os Camerons, sulistas pró-Confederação. O assassinato de Abraham Lincoln por John Wilkes Booth é dramatizado no filme. O filme e o diretor Griffith foram muito elogiados pelo cineasta russo Sergei Eisenstein no livro "A Forma do Filme", no capítulo "Dickens, Griffith e nós", no qual compara a técnica de Griffith à técnica do escritor Charles Dickens. Até o lançamento de The Big Parade em 1925, O nascimento de uma nação foi o filme mais lucrativo de todos os tempos, conseguindo mais de 10 milhões de dólares americanos, e, segundo depoimento da atriz Lilian Gish em depoimento à Voz da América, foram gastos, na produção do filme, apenas 61 mil dólares. O filme foi um enorme sucesso comercial, mas foi altamente criticado por retratar os afro-americanos (interpretados por atores brancos com as caras pintadas de negro) como ininteligentes e sexualmente agressivos em relação às mulheres brancas, e também por apresentar a Ku Klux Klan (cuja fundação original é dramatizada) como uma força heróica. Os protestos contra O Nascimento de uma Nação foram generalizados e o filme acabou sendo banido de várias cidades. A queixa de que se tratava de um filme racista foi tão grande que inspirou D. W. Griffith a produzir Intolerância no ano seguinte. O filme é creditado como um dos eventos responsáveis pelo ressurgimento da Ku Klux Klan em Stone Mountain, na Geórgia no mesmo ano em que foi lançado. O Nascimento de uma Nação foi usado pela Ku Klux Klan como ferramenta de recrutamento até meados da década de 1970. O Nascimento de uma Nação foi o primeiro filme a ser exibido na Casa Branca. O presidente Woodrow Wilson teria dito que o filme é "a história escrita em relâmpagos. E meu único lamento é que é tudo tão terrivelmente verdade". A veracidade da afirmação é, no entanto, contestada. É um dos filmes mais populares da era do cinema mudo. É bastante importante devido a suas inovações técnicas. Porém, ele glorifica a escravatura e justifica a segregação racial, em linha com o movimento intelectual denominado Lost Cause. Foi lançado em 1915 e é creditado por garantir o futuro dos longa-metragens e solidificar os símbolos da linguagem cinematográfica.


Análise do filme: Clique aqui.

4.Mil vezes boa noite. Erik Poppe, 2013.

Sinopse: Rebecca (Juliette Binoche) é considerada uma das melhores fotógradas de guerra ainda em atividade. Mas quando seu marido (Nikolaj Coster-Waldau), junto com a filha do casal, lhe dão um ultimato para que ela deixe de viver sua rotina perigosa, Rebecca enfrentará um turbilhão de emoções por amar a profissão que exerce.

Crítica:

Os primeiros quinze minutos deste drama são espetaculares: a fotógrafa Rebecca (Juliette Binoche) começa a acompanhar um estranho ritual de mulheres em um país africano. Após a simulação de um funeral, elas cuidam de uma integrante em particular, lentamente prendendo dezenas de bombas ao seu corpo. Em poucos minutos, o público descobre junto da protagonista que esta é a preparação de um ato terrorista. Rebecca segue os atos até a inevitável explosão, incrivelmente bem filmada. Ferida e sangrando, ela ainda se aproxima dos corpos para tirar novas fotos.

Talvez nenhum outro momento do filme iguale o impacto deste início, mas Mil Vezes Boa Noite mantém um ótimo nível de questionamento político e de linguagem cinematográfica, ao interrogar a responsabilidade ética da fotógrafa (e da mídia em geral) diante dos atos de violência. Rebecca deveria ter avisado as pessoas ao redor com antecedência, ao invés de deixar a bomba explodir? Ou talvez as suas fotografias pós-atentado tenham maior potencial de atingir o público geral e sensibilizá-lo à causa? Onde termina a denúncia e começa a exploração da miséria? Estas são algumas das importantíssimas questões abordadas de maneira muito eficaz pelo cineasta Erik Poppe.

Apesar do início belicoso, as cenas de guerra são raras. Este é um drama familiar sobre o peso das escolhas de Rebecca em sua vida pessoal. As filhas temem por sua saúde, o marido (Nikolaj Coster-Waldau) não consegue lidar com o risco constante de perder a esposa. Juliette Binoche poderia interpretar esta mulher como uma grande mártir das causas sociais, sacrificando-se para salvar o mundo, mas ela prefere fazer uma mulher individualista, teimosa e francamente arrogante, oscilando com facilidade entre a imagem da militante engajada e da mãe/esposa negligente. É ótimo que Poppe fuja do maniqueísmo simples, tanto no contexto da guerra quanto no trabalho de Rebecca.

O aspecto romântico e familiar da história, apesar de não apresentar grande inovação, desenvolve-se de maneira fluida, amparada por boas atuações de Coster-Waldau e da atriz mirim Lauryn Canny no papel da filha mais velha. Poppe apresenta um gosto malickiano pela construção das imagens, mostrando mãos acariciando lençóis brancos no varal e personagens correndo em belas praias ao pôr do sol. São momentos de beleza idealizada e artificial, representando o escapismo do núcleo familiar em contraste com a excitação e o perigo da guerra africana. Também merece destaque a inversão de gêneros: ao contrário da maioria das produções de Hollywood, neste caso é o homem que fica em casa, cuidando o lar e temendo pela vida do cônjuge, enquanto a mulher embarca na aventura e enfrenta inimigos.

Uma belíssima cena de Mil Vezes Boa Noite sintetiza muito bem a abordagem do filme: em um momento de discussão calorosa entre mãe e filha, esta pega a máquina fotográfica e dispara dezenas de fotos a poucos centímetros do rosto de Rebecca, enquanto a mãe se desespera e chora. O duplo sentido do verbo “disparar” (para a fotografia e para a arma) ganha uma metáfora perfeita, ilustrando o uso da imagem como agressão e invasão. “Eu quero que as pessoas engasguem com o café da manhã quando abrirem o jornal”, diz Rebecca sobre a publicação de suas fotos de cadáveres. Esta é uma história de agressões, tanto privadas quanto públicas, tanto dos indivíduos quanto dos governos. Mas a violência é vista como inerente ao sistema, inevitável nas guerras e nas famílias.


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Trailer Clique aqui.

5.Freaks, 1932

Sinopse: Em um circo de atrações bizarras, Cleópatra (Olga Baclanova) é uma bela trapezista que é cortejada por um anão. Ela não responde as suas investidas até descobrir que ele é herdeiro de uma fortuna. Ela então arquiteta um plano com o seu amante Hércules (Henry Victor), de casar-se com o anão e depois desprezá-lo e envenená-lo. Só que no dia do casamento, Cleopátra repudia os amigos do circo do seu futuro marido, chamando-os de nojentos e sujos. As aberrações se juntam para se vingar de Cleópatra, transformando-a em uma pessoa metade mulher, metade galinha, sem as pernas e quase cega.


6. O homem elefante. David Lynch, 1980.

Sinopse: A história de John Merrick (John Hurt), um desafortunado cidadão da Inglaterra vitoriana portador do caso mais grave de neurofibromatose múltipla registrado até então, tendo 90% do corpo deformado. Exibido como monstro em circos e considerado débil mental pela sua dificuldade de falar, é salvo por um médico, Frederick Treves (Anthony Hopkins). No hospital Merrick se libera emocionalmente e intelectualmente, além de mostrar ser uma pessoa sensível ao extremo. Sra. Kendal (Anne Bancroft), uma grande atriz, torna-se sua amiga e até a coroa britânica sensibiliza-se com o caso.


7. Quilombo, Carlos Diegues, 1984.

Sinopse: Em um engenho de Pernambuco, por volta de 1650, um grupo de escravos se rebela e ruma ao Quilombo dos Palmares, onde existe uma nação de ex-escravos fugidos que resiste ao cerco colonial, entre eles Ganga Zumba, um príncipe africano. Tempos, seu herdeiro e afilhado, Zumbi, contesta as idéias conciliatórias de Ganga Zumba e enfrenta o maior exército jamais visto na história colonial brasileira.


Reportagens

Imagens da escravidão: Clique aqui.

Os fotógrafos do Império do Brasil: Clique aqui.

Ecos da Escravidão: Clique aqui.

Quilombos: Clique aqui.

Quilombos - lutas e resistências: Clique aqui.

Exposições

Catálago da Exposição EXHIBITIONS. L’Invention du sauvage. Paris: Actes Sud/Musée du Quai Branly. 2012.


Clique na imagem para acessar o folder de apresentação.


Vídeo trailer exposição

https://www.youtube.com/watch?v=pXE0CvNZZ_w

Exposição relembra shows étnicos com humanos 'exóticos' na Europa

http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2011/12/111201_galeria_shows_etnicos_df.shtml
http://www.museudeimagens.com.br/zoologicos-humanos/
http://www.museudeimagens.com.br/
https://catracalivre.com.br/sp/agenda/barato/museu-afro-brasil-recebe-exposicao-o-olhar-de-militao-augusto-de-azevedo/
http://www.museuafrobrasil.org.br/



Referências bibliográficas

Livros

1. DIENER, Pablo, COSTA, Maria de Fátima. Rugendas e o Brasil - Obra Completa, Editora Capivara, 612 páginas.

2. DEBRET, Jean Baptiste. Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil. Tomo I. São Paulo: Livraria Martins Editora.

Artigos

1. ALMEIDA, Milton José. Investigação visual a respeito do Outro. DOSSIÊ Área Temática: Educação Visual, Linguagens Visuais e Arte. ETD – Educação Temática Digital, Campinas, v.9, n.1, p.266-328, dez. 2007. Disponível em: Clique aqui.

2. BANCEL, Nicolas, BLANCHARD, Pascal, LEMAIRE, Sandrine. Os jardins zoológicos humanos. Le Monde Diplomatique, 2011. Disponível em: http://www.diplomatique.org.br/acervo.php?id=186

3. TRUSZ, Alice Dubina. Entre lanternas mágicas e cinematógrafos – As origens do espetáculo cinematográfico em Porto Alegre (1861-1908). Disponível em: http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/15547

4. ANDERMANN, Jens. Espetáculos da diferença: a Exposição Antropológica Brasileira de 1882. Disponível em: http://www.revistatopoi.org/numeros_anteriores/topoi09/topoi9a6.pdf

5. ARAÚJO, Emanoel. Negras memórias, O imaginário luso-afro-brasileiro e a herança da escravidão. Estudos Avançados, 18 (50), 2004. P. 242-250. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ea/v18n50/a21v1850.pdf

6. PESAVENTO, Sandra Jatahy. Um encontro marcado – e imaginário – entre Gilberto Freyre e Albert Eckhout. Fênix – Revista de História e Estudos Culturais Abril/ Maio/ Junho de 2006 Vol. 3 Ano III nº 2. p. 1-24. Disponível em: http://www.revistafenix.pro.br/PDF7/02 ARTIGO SANDRAPESAVENTO.pdf


Na internet:

Zoológicos humanos da República Colonial

Nicolas Bancel, Pascal Blanchard
http://www.monde-diplomatique.fr/2000/08/BANCEL/1944

Número temático da Revista L’Ethnographie, nº 2 – análise do imaginário colonial a partir de mais de 200 fotografias preto e branco

Emmanuel Garrigues
http://www.bibliomonde.com/livre/ethnographie-2-3067.html

Propagandas racistas

http://www.propagandashistoricas.com.br/2014/08/alvejante-chlorinol-racismo-1890.html

http://www.propagandashistoricas.com.br/2014/08/lautz-bros-cos-soap-propaganda-racista.html