A partir das fotos a seguir faremos um pequeno exercício (etnográfico – de observação), como forma de despertar a imaginação e a criatividade antropológica sobre as situações de vida reveladas nas imagens.
Após observar as imagens e levando em conta noções de alteridade, etnocentrismo, cultura:
- Que questões poderiam nortear o olhar (uma pesquisa/etnografia) a fim de melhor compreender a situação colocada (transformações no reassentamento da Vila Dique)?
Sugestão para a observação das imagens e levantamento de questões:
CENÁRIOS
SUJEITOS (os atores)
PRÁTICAS (as ações, interações)
A Vila Dique existe há cerca de 30 anos, perto do aeroporto internacional Salgado Filho. Ali viviam cerca de 4 mil pessoas. A imensa maioria de seus moradores trabalha com reciclagem de lixo. Na comunidade havia falta de saneamento, o esgoto está a céu aberto, água contaminada. Há décadas a situação é essa. Agora, os moradores da Vila Dique estão sendo removidos, em função de obras da Copa 2014. Serão transferidos para um bairro da periferia, na zona Norte de Porto Alegre, chamado Rubem Berta.
A remoção de comunidades pobres de áreas centrais para áreas afastadas na cidade não é novidade no Brasil. Em Porto Alegre, foi assim que se formou um dos maiores bairros da cidade, a Restinga. Outro caso emblemático é o da Vila Chocolatão, tirada do centro da cidade para quase sua saída, perto de Viamão. Na Vila Dique, a situação é parecida. No entanto, iniciada em 2009, a política de reassentar as famílias que viviam atrás do aeroporto Salgado Filho para o conjunto habitacional Porto Novo — próximo do sambódromo Porto Seco — ainda não foi terminada.
“Eu não olhei pra trás”. É assim que começa o documentário, a partir da fala de uma das moradoras que colaborou para a sua realização, Almerinda Argenta Gambin, a Miranda. A partir daí, são retratados homens, mulheres e jovens que moram nas duas Diques: a do passado e a do presente. Enquanto alguns dos que ainda não foram reassentados se mostram ansiosos para que isso aconteça, outros reclamam da necessidade de se mudar. Dentre os que já estão no Porto Novo, também se vê essa divisão. Algumas pessoas elogiam a limpeza e infraestrutura do local, mas outras sentem falta de ter mais espaço, de poder escolher seus vizinhos, de ter onde plantar o que quisessem.
A maioria das pessoas contam ter vindo de cidades do interior para formar a vila, onde trabalhavam com reciclagem e mantinham alguns hábitos rurais, com plantações e criação de animais. “Nós lá ‘tinha’ alface, cebola, repolho, tinha ‘as galinha tudo’. E aqui?”, reclama uma das moradoras.
No documentário, Ana Maria, Vavá, Rosângela, Helena, Maria, Cristiano relembram os bons e maus momentos que tiveram lá, assim como as conquistas da comunidade. O posto de saúde, creche, clube de mães, igrejas, acesso à água e luz foram conseguidos aos poucos, a partir de suas reivindicações.
“Quando começaram a demolir o que que eu ia fazer?”, questiona uma mulher que teve sua moradia removida. Os moradores lembram que não optaram pelo reassentamento, mas sim foram forçados. Eles falam com nostalgia de suas casas, que foram destruídas na sua frente, apenas após tirarem seus pertences, mesmo antes de entrarem nas novas residências. As imagens mostram, alternadamente, o Porto Novo e os escombros que permanecem no que costumava ser uma das mais antigas vilas da cidade.
“Muitas vezes se ouve que a Dique é a vila mais pobre de Porto Alegre. Esse é o filme com menos recursos que eu fiz, e descobrimos que há uma riqueza muito grande, tem coisas muito especiais e únicas.As pessoas que estão aqui são a riqueza da Dique”, disse o diretor Jaime Lerner.
A professora da Ufrgs Carmen Gil, emocionada após o fim da sessão,observou que o grupo está lá desde 2010, onde foram para aprender e não para fazer “assistencialismo”. “Lá eu encontrei pessoas que falam de um projeto coletivo de vida. Tudo tem que estar bom pra todos, isso não se encontra em qualquer lugar. Vocês são muito ricos em dignidade”, afirmou.
O documentário, em menos de meia hora, não poderia retratar a integralidade da luta da população que foi retirada de suas moradias e realojadas em um local que não escolheram. Até hoje, algumas famílias lutam junto à prefeitura para conseguir que seus filhos, irmãos e netos saiam da antiga Dique, abandonada e sem acesso à saúde, educação e segurança.
No Porto Novo, todas as casas têm o mesmo tamanho e formato, como na imagem abaixo
“O Departamento Municipal de Habitação (Demhab)... vem procurando impedir as construções favelizadas nos conjuntos habitacionais de baixa renda na Capital, mas encontra resistência dos moradores. Afirma que tem ingressado com ações judiciais para que as obras precárias sejam desfeitas, como na nova Vila Dique (foto abaixo). A orientação é de que os proprietários que pretendem aumentar as casas procurem o departamento, pois os projetos são oferecidos gratuitamente.”
“Passados 17 meses desde a sua inauguração, o aspecto visual é de que o loteamento tem mais de uma década de instalação. As famílias ...não perderam alguns hábitos, como edificar "puxadinhos".
Além das construções precárias, de fundo de quintal, alguns moradores cercaram a faixa de terreno frontal improvisando a construção de cocheiras para abrigar os cavalos, necessários no transporte de resíduos sólidos para reciclagem.
CORREIO DO POVO - ANO 116 Nº 185 - PORTO ALEGRE, DOMINGO, 3 DE ABRIL DE 2011
“ Os primeiros problemas também começam a surgir. Algumas casas começam a apresentar rachaduras nas suas estruturas... Há imóveis rachando com apenas quatro meses de uso", relatou um dos líderes comunitários do local, Gilberto Comin, 37 anos. De acordo com ele, as ampliações das moradias são inevitáveis, considerando-se o tamanho dos sobrados.”
Luis Tadeu Vilani
Descrição: Este ensaio começou quando estava fotografando a transferência de moradores de uma vila, em Porto Alegre, e percebi a vida em transformação dessas pessoas.
http://www.prixphotoaliancafrancesa.com/vote_popular.php?id=44415
Imagem do outro e imagem de si. Utilização do OA “Como me vejo?”
Este objeto de Aprendizagem tem por objetivo auxiliar aos usuários a criarem uma imagem sua, semelhante a uma fotografia, que poderá ser usada por exemplo, no seu Perfil, em um Ambiente Virtual de Aprendizagem.
http://www.ufrgs.br/napead/repositorio/objetos/como-me-vejo/
Arrumando a casa (charge de Quino retirada do livro didático Síntesis)
Observe as imagens da charge de Quino e reflita sobre as questões abaixo.
A sala ter sido arrumada, tudo bem, mas o que será que significa o quadro ter sido arrumado? Entender isso é entender a charge.
- Que quadro é esse? É famoso, para entender a charge é preciso identificar o quadro, uma dica, é do Picasso
- Depois que descobrir o nome do quadro, o próximo passo é descobrir o que inspirou Picasso a pintar esse quadro, somente assim poderemos entender a charge
- Para terminar, volte a prestar atenção na empregada. Ela é uma empregada comum? Preste atenção nas feições dela, no físico dela, ela é simplesmente gorda? Se prestar bem atenção verá que não é bem isso. O que será que ela simboliza?
Esse painel foi pintado por Picasso para que o episódio do bombardeio de Guernica nunca fosse esquecido. Esse episódio, nem tão comentado da história mundial, se refere à Guerra Civil Espanhola. Franco, lutando para assumir o controle da Espanha, e tornando-se, portanto ditador, ordena o bombardeio de Guernica, cidade espanhola. Os nazistas, apoiando o governo franquista, bombardeiam a cidade. De modo que sob autorização do próprio líder da Espanha há o primeiro bombardeio aéreo que destrói uma cidade. Esse episódio será marcado pela ideia do poder opressor de governos ditatoriais. Marcará a ideia de que um governo pode ser contra o seu povo.
Quino não escolheu por acaso este quadro para ser "arrumado". Quando a empregada fortíssima "põe ordem na casa" ela não somente muda o que era "preciso mudar", mas também muda o quadro. Como é impossível mudar o passado, a mudança do quadro indica que ela "adultera a memória do passado". Essa empregada super robusta certamente simboliza o governo opressor, podemos até perceber que o formato do corpo e do rosto da empregada é completamente similar a outros soldados em posição de opressão em diversas outras charges do Quino.
Assim sendo, temos o governo opressor que com a desculpa de "por ordem na casa" quer mudar a memória das pessoas, mudando o que as pessoas creem que o passado tenha sido, adulterando a história. Transformando episódios terríveis como o de Guernica em algo que pareça alegre, uma cena cotidiana de amigos comemorando juntos, como aparece no segundo quadro (após a arrumação).
É interessante perceber que a mulher (de classe média alta) fica olhando o quadro sem entender nada, não tomando nenhuma atitude que seja, de reclamar com a empregada, olhar de desprezo, ódio, descontentamento nem nada do tipo. As elites econômicas não estão preocupadas com a adulteração da história que está acontecendo (e se formos parar para pensar bem, foram eles que permitiram a entrada da "empregada" para que tudo isso ocorresse).
Acesse o Caderno de Atividades sobre a Exposição fotográfica êxodos, de Sebastião Salgado e desenvolva as atividades propostas: