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O possível e o necessário na avaliação escolar

Ricardo S. Machado

Esta proposta visa questionar uma cultura histórica sobre a avaliação de alunos em escolas públicas e privadas no país. Há inúmeras pesquisas na área da educação que mostram que ela envolve, em seu contexto, a reprovação e afirmam que esta não garante a aprendizagem, principalmente para alunos que apresentam problemas cognitivos ou desinteresse pelos estudos. No entanto, sabe-se também que o desinteresse pode estar atrelado à falta de perspectiva e sentido em relação aos conteúdos didáticos ou mais acadêmicos e suas relações com as realidades dos alunos. Como se deve proceder para que a avaliação seja eficiente? Até que ponto a docência pode ser vista como profissão que se pauta por padrões éticos rigorosos?

Recentemente, no terceiro encontro científico da pedagogia da Uninorte (2013), foram abordados os temas da avaliação formativa e da importância do diagnóstico e prognóstico do aluno, assim como de sua autoavaliação, destacando que não se restringem a simplesmente tratar o aluno como bom ou ruim.

Nesta proposta, busca-se explicitar algumas contribuições a partir das pesquisas sobre o possível e o necessário, feitas por Piaget, para o estudo do tema da avaliação. As pesquisas sobre o possível se voltam para a invenção e a criação, enquanto as pesquisas sobre o necessário se voltam para a exatidão, mas isso não quer dizer que não exista parte de exatidão na primeira e de invenção na segunda. Os níveis de operatividade do pensamento e o pensamento lógico incluso na abstração reflexionante referem-se à diferenciação das condutas cognitivas nas várias faixas etárias e níveis de desenvolvimento da inteligência tanto para as diferenças entre as possibilidades que são ilimitadas quanto para as necessidades que são limitativas.

Verificaram-se quatro condições comuns ao desenvolvimento dos possíveis e do necessário. (1) Vê-se em ambos a relação entre idade e operatividade de pensamento. As crianças do nível I comumente estão na faixa etária que vai dos 3 aos 5 anos, aproximadamente; as de nível II, dos 5 aos 8; as de nível III, dos 8 aos 12 (com alguns subníveis como IA, IB, sendo que este último pode ser visto como uma transição entre os níveis I e II). Isso não significa, porém, que essas faixas etárias sejam absolutas em relação aos níveis; elas são referências relativas às trajetórias individuais e aos contextos socioculturais, e sua sequência é que é universal. Por isso, no momento da avaliação, tais fatores devem ser levados em conta para o professor não se exceder, como em casos de reprovação sobre um conteúdo mais avançado do que o nível de assimilação em que se encontra o aluno. (2) Todas as experiências observadas nas obras sobre o possível e o necessário foram iguais para diferentes alunos, independentemente do nível em que se encontravam. Parte-se, na pesquisa, de uma mesma atividade para se chegar aos diferentes níveis de resposta formulados pelos sujeitos pesquisados. Numa sala de aula, é relevante considerar o nível de complexidade do conteúdo a ser desenvolvido em relação com a faixa etária dos alunos, mas, principalmente, é importante considerar os níveis de desenvolvimento mental das respostas dos alunos, em seu aspecto qualitativo, para que não seja realizada uma avaliação que só aprove ou reprove. (3) Uma questão implícita nesta problemática envolve a valorização da intervenção do professor sobre o erro do aluno para problematizar a resposta e instigá-lo, a partir disso, à reflexão e a uma nova coordenação dos dados extraídos do problema, sem limitar-se a dar a respostas prontas (intervenção empirista). (4) É importante que haja situações pedagógicas que visem à contextualização do sujeito aprendiz através de práticas que façam sentido e que partam de elementos presentes no seu cotidiano (como as que aparecem nas experiências nas pesquisas estudadas), relacionando-os com as atividades de sala de aula, e não somente os conteúdos padronizados dos livros didáticos.

A relação entre método de ensino e avaliação pode ser estudada, de certa forma, em qualquer época da civilização, uma vez que a natureza humana não muda. As mudanças do ensino e da avaliação podem acompanhar as mudanças culturais ao longo dos tempos, ou ter relação com as diferentes formas de cultura contemporâneas e locais e as diferenças individuais, que também podem ser geopolíticas, mas não têm relação com o que o homem carrega no seu DNA, ou na base do seu caráter social e do seu pensar, isto é, o que se busca nas pesquisas psicogenéticas.

O objetivo desta proposta não é dar dicas de métodos de ensino e aprendizagem, tampouco emoldurar objetivos de avaliação diagnóstica. Segundo Werneck, uma analogia sobre a profissão docente e o papel da escola pode ser fundamentada sobre a ética médica, quando ele diz que: se um bom médico fosse quem mata seus pacientes, a boa escola deveria ser aquela que reprova seus alunos (WERNECK, 2007). Assim, vemos que o mesmo ocorre com o profissional da medicina, mas isso nem sempre é tratado pelos profissionais docentes. Portanto, até que ponto se deve utilizar uma avaliação classificatória ou seletiva? Não é este o objetivo do vestibular ou do ENEM? Será que o objetivo da escola também é o mesmo, isto é, será que o objetivo do profissional docente não é preparar seu aluno para concursos futuros em vez de já transformar de forma antecipada suas aulas em um concurso ou seleção? Será que, em parte, o paciente do médico ao morrer é visto de forma mais evidenciada, enquanto que a reprovação do aluno é enganosamente percebida como superficial, como se fosse uma morte invisível?

Outras referências:

SALES, A. A; BATISTA, J. A avaliação formativa na educação. In: III ENCONTRO CIENTÍFICO DA PEDAGOGIA DA UNINORTE, 2013, Faculdade Norte Paranaense – Uninorte, Londrina. Anais. Londrina, 2013.
WERNECK, H. Se a boa escola é a que reprova, o bom hospital é o que mata. 10. ed.: Petrópolis: DP et Alii, 2007.

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