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Reflexões sobre o Possível, o Necessário e a Resolução de Conflitos.

Graziela Souza

Ao pensar a questão das relações interpessoais e da resolução de conflitos, cabe salientar que as diferentes formas de resolver problemas dependem das condições cognitivas e morais dos sujeitos envolvidos. Ou seja, as formas agressivas, submissas ou assertivas de resolução de conflitos (VICENTIN, 2011) são utilizadas conforme a maneira como cada um interpreta cada situação e a capacidade ou não do individuo de descentrar-se, colocar-se no lugar do outro e pensar reciprocamente.

Conforme Vicentin (2011), as estratégias agressivas e submissas acarretam uma condição de desigualdade e injustiça para algum dos personagens envolvidos. “Já a estratégia assertiva é a única que favorece a justiça e a igualdade, além do respeito mútuo” (Idem, p.232).

O possível e o necessário constituem, com efeito, os instrumentos de organização cognitiva em jogo a partir dos comportamentos vitais até as formas superiores do pensamento, e não os caracteres do que é dado, por mais geral que seja (BLANCHET e CAPRONA, 1986). Neste sentido, à medida que o sujeito age, pode aprender com suas próprias ações e com as ações dos demais envolvidos, considerando novas possibilidades e se reorganizando cognitivamente.

Para resolver um conflito de maneira assertiva, é necessário um nível de desenvolvimento mais avançado – é preciso que o sujeito pense de forma reversível e equilibrada, considere a si mesmo e ao outro como sujeitos envolvidos, ambos respeitando-se mutuamente, utilize o diálogo e a expressão honesta dos sentimentos como formas mais justas e harmoniosas para resolver desacordos interpessoais. Essa evolução pode ocorrer através “das interações com as oportunidades que o meio oferece” (VICENTIN, 2011, p. 246). Segundo Piaget (1985, p. 60),

O sujeito, convencido de um sucesso possível, faz projetos, anuncia-os e não renuncia, ao menos de saída, em caso de fracasso, mas busca corrigir e melhorar suas ações. Em contrapartida, o que limita o alcance positivo dessas reações é que o sujeito, mais confiante de seus poderes, tenta qualquer coisa e chega tanto a variações aberrantes como a correções reais [...].

É por meio das tentativas e oportunidades de vivência que o sujeito pode rever seus projetos e corrigir suas ações. Assim acontece também com situações referentes a questões morais. Ao refletir sobre suas ações, o sujeito pode tomar consciência e reformular ou reprojetar seus objetivos – consequentemente, suas ações. Neste sentido, o diálogo pode ser uma oportunidade de conceituação dos sentimentos e, assim, pode proporcionar ao sujeito reflexão e tomada de consciência, o que contribuirá para o seu desenvolvimento.

Para Piaget (1986, p. 125):

[...] toda necessidade é originada de composições possíveis, que ligam mesmo entre si tanto possibilidades como realidades atualizadas, e que, reciprocamente, as co-necessidades engendram novas possibilidades. Sendo tanto o possível como o necessário um produto das atividades do sujeito e não um observável dado na experiência, as interdependências são, por essa razão, naturais. Ora, elas são confirmadas pelo paralelismo de nossos estádios.

O possível corresponde a diferenciações, e o necessário, a integrações cada vez mais diversificadas, sendo a interação entre elas uma das três formas principais de equilibração das estruturas cognitivas. O autor sintetiza destacando que: “os possíveis constituem a fonte das aberturas e a necessidade a fonte dos fechamentos” (Idem, p. 127). Isso ocorre numa alternância constante, essencial para o processo de conjunto das estruturações.

A convivência em ambientes sociomorais oportuniza novas aberturas e fechamentos conforme as situações vividas e as ações dos sujeitos envolvidos. Assim, os conflitos interpessoais fazem parte da vida em sociedade como reflexo da divergência de ideias e valores. Suas formas de resolução variam de acordo com as situações e com o desenvolvimento cognitivo e moral dos sujeitos.

Neste sentido, é possível que sujeitos com nível de desenvolvimento cognitivo e moral mais avançado optem por resolver seus conflitos de forma assertiva, com reciprocidade e respeito mútuo. Contudo, é necessário o desenvolvimento cognitivo e a vontade do sujeito.

Outras referências:

BLANCHET, A. e CAPRONA, D. de. O necessário e o impossível em composições de rotações. In: PIAGET, Jean et al [1981]. O possível e o necessário: evolução dos necessários na criança. Tradução de Bernardina Machado de Albuquerque. Porto Alegre: Artes Médicas, 1986. Vol.2.
VICENTIN, Vanessa Fagionatto. Estilos de resolução de conflitos interpessoais: o que a escola pode fazer? In: TOGNETTA, Luciane Regina Paulino e VINHA, Telma Pileggi (Orgs.). Conflitos na instituição educativa: perigo ou oportunidade? Campinas-SP: Mercado das Letras, 2011.

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