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Partitura colorida

Igor O. Rodrigues

Este trabalho trata das relações feitas entre notas musicais e cores realizadas por Celso Wilmer ao construir a ideia da “Partitura Colorida”, ou “Partitura de Arco-Íris”, para facilitar o aprendizado da leitura musical (partitura convencional) e que tem como base a teoria (níveis de abstração) de Jean Piaget. O trabalho de Wilmer procurou colocar a partitura musical já existente dentro da trajetória da representação gráfica.

A investigação baseada nessa metodologia é direcionada à pedagogia musical e utilizada na musicalização infantil e na musicoterapia. A prática implica utilizar as relações entre notas musicais e cores para a construção de um software que visa a comunição com surdos e utilizar as Partituras Coloridas como instrumento de auxílio para a avaliação de sessões de musicoterapia e formação de corais de flauta doce.

Wilmer procurou fazer uma adequação da partitura tradicional e, assim, oferecer uma fácil ligação entre o estudante e a simbologia musical já estabelecida (partitura convencional), que, segundo o próprio autor, é abstrata (WILMER, 2004).

A relação das notas musicais com as cores estabelecida por Wilmer se dá melodicamente por intervalos de terça. Sendo o Dó azul, o Mi roxo e o Sol magenta (rosa), o acorde de Dó Maior recebe a cor azul como tom-base. Na partitura de arco-íris, a cor da tonalidade da música é aplicada em um tom de cor claro por baixo do intervalo em que vigora o acorde, ou seja, esse mesmo acorde de Dó Maior – a nota mais grave sendo o roxo – sobre fundo azul indica o tom do baixo na terça do acorde (Mi em Dó).

O modelo cromático adotado por Wilmer aplica-se a todas as tonalidades e escalas (escala menor, harmônica, melódica, etc.). Sendo assim, são os graus da escala musical que recebem cor, e não os tons musicais, como num processo de figura e fundo (ORTEGA, 2009). Wilmer buscou na epistemologia genética de Piaget como se constrói o conhecimento, isto é, de que modo um sujeito avança de um nível de pensamento mais simples para um mais complexo.

O conceito de equilibração de Piaget significa que o sujeito se modifica em busca de equilíbrio: ele tem que se acomodar para conseguir, de fato, conhecer o objeto, pois como o objeto, no caso a partitura convencional, não se deixa conhecer facilmente e possui algumas singularidades, o sujeito precisa procurar meios para explorar esse objeto e assimilá-lo. O crescimento da inteligência se dá pelo desequilíbrio e reequilíbrio, e é a partir dessa teorização que foram definidas quatro etapas no uso e na construção da Partitura Colorida.

No plano da ação, conforme Piaget (1978), as reações iniciais consistem em proceder por meio de esquemas isolados de assimilação, com empenho para ligá-los a seu objeto, não indo além de acomodações momentâneas. Ele segue dizendo que a “tomada de consciência depende de regulações ativas que comportam escolhas mais ou menos intencionais e não de regulações sensorimotrizes mais ou menos automáticas” (PIAGET, 1978). O autor define que todo esquema de assimilação tem a tendência de se manter, mas que não passa de uma extensão possível de seu conteúdo. Em contrapartida, ele é forçado a acomodar-se a novas situações, e os “poderes” a partir dos quais articulamos são expressões variáveis de um nível ao seguinte, dessa habilidade de acomodação. O “possível” resulta, assim, de uma atividade adaptável em busca de sua forma de atualização, esta dependendo, ao mesmo tempo, da flexibilidade e solidez dos esquemas e das resistências do real (PIAGET, 1985). As modificações do modo como o sujeito entende o mundo acontecem juntamente à própria conquista de novos esquemas conceituais.

Os esquemas operatórios compõem uma síntese: enquanto ato temporal e momentâneo, uma operação é um procedimento, mas a estrutura intemporal das leis de composição entre operações oferece os caracteres de um esquema presentativo de ordem superior. Assim, todo sujeito encontra-se na detenção de dois amplos sistemas cognitivos: o sistema presentativo fechado, de esquemas e estruturas estáveis, que serve fundamentalmente para “compreender” o real, e o sistema de procedimento, em mobilidade contínua, que serve para “ter êxito”, para atender necessidades deste modo, através de invenções ou transferências de processos (PIAGET, 1985).

Outras referências:

CATELÃO, E. M.; G. C. CALSA; A. C. J. HINTZE. Tomada de Consciência e Conceituação do Sujeito Sintático entre Alunos do Curso de Letras. Maringá, Universidade Estadual de Maringá, 2006.
ORTEGA, I. As Cores do Som. Faculdade Paulista de Artes, São Paulo, 2009.
ORTEGA, I.; WILMER, C.; GATTINO, G. S. A utilização da partitura colorida no processo de avaliação em musicoterapia. Simpósio Brasileiro de Musicoterapia. XIV, A. D. Olinda: Associação de Musicoterapia do Nordeste 2012. Anais: site 14simposiomt.wordpress.com
PIAGET, J. A Tomada de Consciência. São Paulo, Editora da Universidade de São Paulo, 1978.
WILMER, C. Mão Esquerda: Acordes na Vizinhança de DóM/Lám. Rio de Janeiro, Edição do Autor, 2004.
WILMER, C. Color-encoded music scores: what visual communication can do for music reading. Leonardo, v. 28, Editora: The Mit Press, 1995.
WILMER, C. Ed. Leitura Musical: 7 aperfeiçoamentos em qualidade de informação. Rio de Janeiro: Edição do Autor, v.14, p.97, 2013.
WILMER, C.; R. M. COUTO; R. PORTAS. Sobre brinquedos informativos e uma correspondência entre polígonos, cores e tons musicais. Rio de Janeiro: Edição do Autor, 2009.

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