FARINOGRAFIA

A farinografia é um dos testes mais completos e sensíveis para a avaliação da qualidade de mistura e absorção de água da massa da farinha de trigo. O aparelho utilizado para a realização desta análise chama-se farinógrafo (link 2A1) e consiste em uma masseira (link 2A2) que possui duas facas em “z” que giram em sentido contrário, onde é colocada a amostra, e um dinamômetro que mede a força requerida para a mistura da amostra e reproduz um gráfico que mostra as variações ocorridas durante o processo de mistura.

A farinografia é realizada em duas etapas. A primeira delas é chamada de curva de titulação, onde 300 gramas de farinha de trigo, na base de 14% de umidade, são pesadas e colocadas na masseira do farinógrafo. Com o farinógrafo em movimento, adiciona-se água suficiente até que apareça uma linha contínua no papel registrador que indique 500 unidades farinográficas (UF). A quantidade de água adicionada, com as correções adicionadas, indica a absorção de água da farinha em questão. Esta absorção é um indicativo da quantidade de água necessária para a produção do pão oriundo desta farinha.

Já a segunda etapa consiste no traçado do farinograma propriamente dito. Nesta etapa novamente é pesada uma amostra de 300 gramas de farinha, na base de 14% de umidade, à esta adiciona-se a quantidade de água determinada previamente, e deixa-se o aparelho em movimento por um tempo de no mínimo 20 minutos O papel milimetrado apresenta nas abcissas o tempo expressado em minutos e nas ordenadas (escala de 0 a 1.000) a consistência da massa em unidades Brabender (U.B.) ou unidade farinográfica (U.F.).

A análise farinográfica, assim como a análise extensográfica, se efetuam para uma consistência de massa fixa, de precisamente 500 U.F.

Os parâmetros de qualidade medidos através do farinograma são:

  • Absorção de Água: É a quantidade de água necessária a ser adicionada à farinha, de modo que esta adquira consistência padrão na linha de 500 unidades farinográficas. É expressa em percentual.
  • Tempo de Desenvolvimento da Massa (T.D.M.): É o intervalo expresso há 30 segundos, contados a partir da primeira adição de água ao ponto de máxima consistência, imediatamente antes da primeira indicação de enfraquecimento. Ocasionalmente podem ser observados dois picos, o segundo deve ser tomado como ponto de desenvolvimento da massa. O segundo pico é considerado, se este apresentar altura igual ou superior ao primeiro. Na prática, o tempo de desenvolvimento indica o tempo que o profissional de panificação dispõe para determinar o percentual de absorção de água da farinha que esta trabalhando, de modo a deixar a massa com a consistência ideal para a fabricação de pães.
  • Estabilidade (EST): É a diferença de tempo, expressa a 30 segundos, entre o ponto onde o topo da curva intercepta primeiramente a linha de 500 UF (tempo de chegada) e o ponto onde o topo da curva centra exatamente a linha dos 500 UF (tempo de saída) (linhas verdes nos farinogramas) Esta leitura pode ser feita na linha de 480 UF ou de 520 UF, através do traço de uma linha paralela à linha de 500 UF. A estabilidade fornece um indicativo da resistência que a massa possui ao tratamento mecânico e ao tempo do processo fermentativo na fabricação de pão.
  • Índice de Tolerância à Mistura (I.T.M.): É a diferença expressa em unidades farinográficas entre o topo da curva no pico e o topo da curva medido 5 minutos após o pico ser alcançado (Granotec, 2001a). Este índice fornece informações sobre a maior ou menor tolerância da massa à mistura.
  • 10 e 20 minutos de queda: É a diferença da altura do centro da curva no pico e da altura do centro da curva 10 e 20 minutos depois da primeira adição de água. Este valor fornece o grau de enfraquecimento da massa ao longo da mistura.
  • Valor do Valorímetro: É uma medida obtida através da utilização de um ábaco, o valorímetro, sendo seu valor baseado no tempo de desenvolvimento e no índice de tolerância da massa à mistura. O valor do valorímetro é um dado empírico de qualidade, não sendo muitas vezes considerado nas avaliações do farinograma.

  • A figura abaixo mostra um exemplo de farinograma com a indicação das principais leituras do gráfico.


    Figura: Exemplo de Farinograma

    Abreviações: TDM= tempo de desenvolvimento da massa; EST= establidade; ITM= índice de tolerância à mistura; TC= tempo de chegada e TS= tempo de saída da linha de 500 U.F.

    A força da farinha pode ser avaliada de acordo com os índices de qualidade medidos através da farinografia. A tabela abaixo apresenta a classificação da qualidade das farinhas de acordo com os dados farinográficos.

    Classificação da Qualidade da Farinha segundo a interpretação de tempo de desenvolvimento da massa, a estabilidade e o índice de tolerância, obtidos pela farinografia
    Classificação Tempo de Desenvolvimento (min) Estabilidade (min) Índice de Tolerância (UF)
    Muito Fraca ≤ 2,0 ≤ 2,0 ≥ 200
    Fraca 2,1 – 4,0 2,1 – 4,0 150 – 199
    Média força-fraca 4,1 – 6,0 4,1 – 7,0 100 – 149
    Média força-forte 6,1 – 8,0 7,1 – 10,0 50 – 99
    Forte 8,1 - 10,0 10,1 – 15,0 0 – 49
    Muito Forte ≥ 10,1 ≥15,0 -

    Os tipos de farinogramas obtidos em análises de farinha de trigo variam em forma e longitude de acordo com o cultivar, com o efeito das condições ambientais, com o teor de proteínas e com o tipo de farinha analisada. Sendo assim, o farinograma característico de uma farinha de trigo para panificação, por exemplo, é diferente do farinograma de uma farinha utilizada para a fabricação de massas, assim como de uma farinha utilizada para a fabricação de biscoitos. Veja exemplos destes farinogramas.

    Farinhas que apresentam valores de absorção de água menores do que 55% não são indicadas para a panificação. Isto se dá devido ao fato de que para produção de pães é necessária a adição de uma quantidade de água para a realização de vários fenômenos indispensáveis à obtenção de produtos de qualidade, entre eles: a união das partículas do glúten e realização da ação aglutinante deste, a garantia da umidade final do produto, a disponibilização de vapor para o salto de forno, a dissolução de ingredientes hidrófilos, a ativação das enzimas e o desenvolvimento da fermentação. Sendo assim, uma farinha com baixa absorção de água não gera um produto ideal, pois a água necessária para a obtenção deste não será absorvida e não realizará as funções acima citadas.

    A estabilidade é um indicativo do tempo de batimento das massas. Farinhas que apresentem valores menores a 12 min de estabilidade suportam tempos de batimento menores e, caso este tempo seja ultrapassado, a rede de glúten formada irá se quebrar, deixando a massa pegajosa e levando ao seu descarte.

    Por outro lado, as farinhas que apresentam valores de estabilidade maiores que 12 minutos geram uma massa mais trabalhada, isto é, que resiste a um maior tempo de batimento, mas por outro lado, este excesso de batimento pode causar um desgaste no equipamento onde é feito o batimento (normalmente masseiras) e um possível aumento na temperatura final da massa, caso a refrigeração do equipamento não seja suficiente pelo excesso do tempo da operação de batimento. Em produtos fermentáveis, o aumento da temperatura da massa no final do batimento é indesejável, pois gera um menor tempo de fermentação, que é traduzido em um menor volume específico final, e às vezes pode acarretar na perda das propriedades organolépticas do produto, devido ao menor tempo de fermentação, já que esta etapa é a principal responsável pelo desenvolvimento destas propriedades.

    Desta forma, é imprescindível observar os parâmetros de estabilidade na ocasião da troca de lote de farinhas, dentro de uma indústria, pois caso a estabilidade diminua devido ao uso de lotes diferentes, deve-se atentar para um menor tempo de batimento.

    Quando se fala de especificação de farinhas para categorias de produtos, pode-se trabalhar com as seguintes faixas:

    Característica* Massas Pães Bolos Biscoitos Fermentados Biscoitos Doces
    Absorção de água (%) 60-64 > 55 - < 55 < 55
    Desenvolvimento (min) 8-13 4-9 1-2 3-6 1-3
    Estabilidade (min) > 15 12-18 2-4 6-12 2-4
    *Observação: É importante salientar que cada fábrica possui parâmetros adequados a uma determinada formulação, a um determinado processo e a um determinado padrão de produto, sendo assim, uma excelente especificação de farinha para o produto da indústria “A’, pode não se adequar tão bem a um similar produzido na indústria “B” e por isso nenhuma especificação de parâmetros deve ser dada como única.

    Assista o vídeo da análise: